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Opinião

Superlativa incoerência

Nesta última terça-feira, dia 11, preso em uma das vias centrais desta amável cidade que com carinho e simpatia tem me acolhido como seu morador nos últimos quatro anos, por ocasião da tradicional carreata de caminhoneiros, parte das programações juninas, vi o crepúsculo vespertino chegar observando atentamente aquela manifestação cultural, ainda que, a princípio, de forma involuntária, cujo tema era “Nós por elas”. Sem sombra de dúvida um belo e atual tema sobre a violência contra a mulher, não fosse a superlativa incoerência comportamental de muitas que ali participavam. Comportamento que tão somente reflete a falta de bom senso reflexivo, crítico e de amor-próprio, desclassificando o valor do protesto e das protestantes.

Antes de continuar, quero deixar claro que minha crítica não traz absolutamente nenhum viés ideológico machista ou doutrinário/religioso, uma vez que muitos sabem que, por ofício principal, sou um teólogo e pastor evangélico cristão de doutrina tradicional reformada e muito menos sou machista. Antes, minha opinião aqui exposta está fundamentada sobre o crivo de uma perspectiva essencialmente sociológica, pois também tenho formação filosófica e sociológica onde exerço a docência.

É de uma superlativa incoerência ter visto jovens garotas a expor cartazes com frases de efeito do tipo “Não é não” contra a violência do estupro. Outras jovens nas calçadas distribuído panfletos com dados de um denominado “violentômetro”, cuja lista de advertência a comportamentos nocivos trazia entre outros: piadas ofensivas, ser ignorada, sofrer desqualificações, ser ofendida, ser humilhada, ser xingada – Pasmem! – Tudo isso ao frenético e estrepitoso som de alguns paredões que equipavam alguns dos carros daquela carreata a tocar funks e forrós (dito universitário) em cujas letras tenho vergonha de aqui transcrevê-las. Letras de completo esculhambe a moral, a ética, ao decoro, ao caráter, a integridade feminina. Letras que transformam mulheres em meros objetos sexuais, desmoralizando sua feminilidade, ridicularizando escrachadamente seus sentimentos, seus valores, sua pessoalidade. E o pior! O que embasa esta superlativa incoerência é que, ao som de tais canções ali estrondosamente reproduzidas, as mulheres presentes naquela manifestação balançavam-se, cantavam e se alegravam com a maior naturalidade, sem sentirem-se ultrajadas e, ao mesmo tempo em que consentiam e se entregavam ao prazer de suas felicidades festeiras, não percebiam que a si mesmas se ultrajavam.

Algumas das jovens que ali carregavam cartazes de protestos perfiladas em um dos caminhões foram ou ainda são minhas alunas em alguma das escolas públicas locais. Quantas vezes em outros momentos já as vi nas escolas em apresentações de eventos culturais ou em meio a rodas de colegas com seus celulares a curtirem tais tipos de músicas com letras que degradam afrontosamente a alma feminina? Inúmeras!

Creio que antes desta geração de mulheres reclamarem respeito e proteção para si à sociedade e às autoridades, com postura de profunda introspecção, deveriam reclamar a elas mesmas o resgate de valores que norteiem aquilo que deva espelhar seu caráter. Creio que estas mulheres devam, antes de mais nada, resgatar uma consciência do seu real valor antes de se venderem aos prazeres de aplaudir, curtir e dançar músicas que, entre outras degradações a elas, as tratam (como por exemplo) de só as cachorras que malandramente levarão maderada, só pra gente (os marmanjos) curtir. Creio que antes das mulheres protestarem respeito elas devam deixar de dar ibope aqueles que, através de suas letras imorais, convocam marmanjos a poder ir (ao baile) sem dinheiro, mais (sic) levar uma piranha… …uma p. para uma surubinha de leve… …tomar tapa na cara. Creio que antes das mulheres exigirem menos violência devam elas mesmas deixarem de si violentarem ao se dar o disparate de ouvir algum marmanjo declarar que “tava no baile, escutando aquele som… …Vi logo uma novinha que faz um boquete bom, a novinha experiente já nasceu com esse dom, ajoelha se prepara e faz um boquete bom”.

Pois é, mulheres! É superlativa incoerência vocês reclamarem contra esse tipo de violência enquanto vocês
mesmas se entregam aos prazeres destas letras musicais que são verdadeiras piadas ofensivas, que as ignoram como
mulher, que as desqualificam, que as ofendem, que as humilham, que as xingam, que as detratam.

Confesso que sou antiquado, do tipo que ainda admira com todo o respeito uma mulher que sabe ser mulher. Para essas, Viva a mulher! Para essas, com orgulho, abraço a causa NÓS POR ELAS.

JOSEMAR ALVES DE CARVALHO é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil e professor.

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