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Médico paramirinhense é aprovado em 1° lugar para cursar neurocirurgia em SP

Na última semana, a população de Paramirim recebeu com muito orgulho a notícia de que, nos próximos anos, terá entre seus conterrâneos o primeiro neurocirurgião.

Cássio Neves da Silva Sousa, de 31 anos, foi aprovado para a residência médica em uma das áreas mais complexas da medicina e cujos processos de seleção estão entre os mais concorridos do país.

E não para por aí: havia apenas uma única vaga, e ele a conquistou. Não se sabe a concorrência exata que enfrentou nesse concurso, mas o médico conta que, em outros, já chegou a concorrer com até 250 pessoas por uma posição.

Reservado e de poucas palavras, ele conversou com o Paramirim Agora sobre sua trajetória de vida.

Filho de uma professora e um técnico em manutenção de equipamentos hospitalares, Cássio nasceu em um contexto familiar financeiramente humilde e enfrentou muitos desafios até aqui, mas nada que tirasse, nem reduzisse, sua vontade de estudar. Pelo contrário, sempre viu o conhecimento como o único meio para mudar a realidade em que vivia.

“Desde criança ouvi dos meus pais e avós que um dos maiores tesouros que alguém pode oferecer a quem ama é o estudo. E indubitavelmente este foi o maior legado que meus pais puderam me dar.”

Ele conta, honrado, que sua trajetória estudantil começou em Paramirim, no antigo Colégio Sol de Esperança, hoje Antônio Cruz, onde cursou o ensino fundamental.

Aos 15 anos de idade, em companhia de alguns conterrâneos, conseguiu uma vaga para estudar em um colégio público federal de Vitória da Conquista: o Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (CEFET), hoje denominado Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA).

“Foram tempos difíceis, muitas privações financeiras, contamos com o suor e o esforço dos nossos pais na garantia da nossa permanência nos estudos.”

Chegava a estudar até 10 horas por dia para ingressar no ensino superior — apesar de considerar que a qualidade, e não a quantidade, é o determinante:

“Eu acredito que cada pessoa tem um ritmo de estudo. Não adianta estudar 8 horas por dia e não render. Eu sempre busquei qualidade. Aprendi a minha forma de guardar as informações. Revisar o assunto é essencial. No meu caso, eu estudava em média 8 a 10 horas por dia. Mas haviam dias que não conseguia estudar nada. Mais importante que horas de estudo é: qualidade de estudo, foco, atenção e disciplina.”

Em 2010, após bom desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), concorreu no Programa Universidade para Todos (ProUni) e foi contemplado com uma bolsa de estudos para cursar Medicina em Presidente Prudente (SP), na Universidade do Oeste Paulista, considerada uma das três melhores particulares do estado.

“Fui com uma pequena mochila e pouco menos de 30 reais no bolso. Quando cheguei em São Paulo, nordestino, vindo de uma cidade do interior da Bahia, por muitas vezes fui questionado o que eu ali fazia. Mas eu nunca olhei para isto, eu nunca me vi em uma situação de insatisfação ou tristeza pela minha condição.”

Durante a graduação, as dificuldades continuaram, mas nenhuma delas foi superior à sua força de vontade.

“Morei em pensionato. Cheguei a dividir quarto com 5 pessoas. Sem dúvida alguma, estudar em outra cidade é um desafio, além da saudade dos familiares, viver em uma cidade grande com poucos recursos financeiros é um sacrifício. Mas todo sacrifício gera um resultado, com força, persistência e fé, os frutos vem.”

Após muito esforço, graduou-se médico no fim de 2015 e, no ano seguinte, retornou à terra natal.

“Em 2016 eu cheguei a Paramirim, fui muito bem recebido pela população. Não é fácil para um médico recém-formado, a medicina é vasta, exige muita responsabilidade. Trabalhei no PSF de Caraíbas por alguns anos, onde fiz grandes amigos, sobretudo, mantenho um carinho enorme pela população desta comunidade. Trabalhei também no SAMU 192, foram tantos aprendizados. Mas eu sentia que precisava de algo a mais. Eu gostaria de trazer para nossa região o melhor. Então, afastei-me de minhas atividades e me dediquei quase que exclusivamente a estudar para passar em uma prova para especialização, e a área que eu escolhi foi Neurocirurgia.”

“O cérebro é fascinante, um órgão capaz de comandar tantas funções fisiológicas e ao mesmo tempo o centro do pensamento e da cognição. O cérebro é o órgão que nos distingue dos demais seres vivos. Eu tive uma grande empatia pela área durante minha graduação e persisti até conseguir esta vaga.”

“A sensação que tive quando passei foi de gratidão. Eu sou muito grato a Deus, pois eu acredito totalmente que nem uma folha cai de uma árvore sem a permissão de Deus e é a Ele quem glorifico por isto. Ademais, aos meus pais, guerreiros! Eles são a minha base.”

Cássio estudará no Hospital Universitário São Francisco, situado em Bragança Paulista — cidade, aliás, onde reside outro ilustre conterrâneo, o Promotor de Justiça Jordão Antônio Nunes, natural da comunidade do Mateus, zona rural de Paramirim, que, como o futuro neurocirurgião, tem uma admirável história de luta e superação.

Na maioria das áreas, a residência médica dura em média dois anos, mas a neurocirurgia exige cinco anos de dedicação total — quase a mesma duração do bacharelado em medicina.

“Não existe sonho que não possa ser realizado. Eu sempre pensei que não existem fronteiras para aqueles que têm o desejo de conquistar coisas boas. Eu nunca fui privilegiado pela sorte. Eu sempre olhei para o futuro, sempre esperei que dias melhores viriam e eles vieram.

Eu diria ao Cássio do passado, um menino sonhador, que todo esforço para o bem é recompensador.

Eu diria a todos que estão lendo esta mensagem: nunca desistam dos seus sonhos.

Euclides da Cunha escreveu uma frase ícone da literatura brasileira “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Não existe impossível, tudo é questão de esforço e tempo.”

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