Dia do Jornalista: conheça a história do primeiro jornal editado em Paramirim
Por Domingos Belarmino da Silva
No campo literário, poucos avanços tivemos ao longo da nossa centenária história. Raríssimos livros publicados por autores paramirinhenses, quatro ou cinco periódicos de cunho local, muitos ABC no passado e agora uma chuva de sites na internet com milhões de mensagens nas redes sociais. Cabeças pensantes e mentes sadias não nos faltam, filhos ilustres com formação acadêmica em diversos campos dos saberes, temos aos montes, doutores para dar e vender com inúmeras especialidades. Enfim, muita conversa jogada fora e pouca pena. Assim fomos ao longo da história, permanecemos no presente e haveremos de ser no futuro. Eternos observadores, passivos escrevinhadores. Fazer o quê? Não somos adeptos da máxima latina: Verbo volant escripta manent – As palavras voam os escritos ficam.
Por outro lado, temos uma literatura oral vastíssima. Muitos falares voando por aí afora sem o devido registro, se perdendo no tempo. Outros, de asas aparadas, acobertados pelo medo da cumplicidade. Nossa cultura é vasta, mística e diversificada. Valores com capacidade criadora, gente do povo, da elite, nativos e chegantes criando e recriando, ressignificando, fazendo e refazendo em busca do melhor jeito de se viver ou da vida que pode ser vivida, sempre deixando alguma coisa de si para dar o que falar de bom ou de ruim. Provérbios, cantigas, anedotas, crenças, ditados, conversas de botequins, receitas, histórias do cotidiano, casos, simpatias e tantas outras formas de expressão se esvaindo por aí, às vezes criadas ao léu, se escrevinhadas fossem teríamos com certeza uma história mais rica e sedutora.
Cultura é assim mesmo, quanto menos formalidades melhor. Não precisa uniformizar o repentista, a benzedeira, a menina que canta roda, eles se vestem como podem, sem fugir às regras do cotidiano. Com a literatura, o jornalismo, o rádio ou a televisão é bem diferente. O foco da comunicação é o leitor, o ouvinte, o telespectador, a mensagem tem que sair e chegar de forma direcionada, com regras e objetividade para que haja sintonia entre o emissor e o receptor, na melhor das hipóteses. Movido pelo desejo de informar e instruir o seu público leitor, a paróquia de Paramirim no começo dos anos setenta fez circular por alguns anos sob a direção do seu dinâmico sacerdote Pe. Pedro Olímpio dos Santos o primeiro periódico impresso de Paramirim, do qual guardamos todos os números, como uma relíquia.
O jornal A comunidade foi o primeiro periódico de cunho local oficialmente impresso nas oficinas de Paramirim em pleno regime militar, época em que a censura se tornou a lâmina afiada de muitas produções artísticas, na música e na literatura, principalmente. Como já disse, foi sob a direção do Pe. Pedro Olímpio dos Santos, auxiliado por Sebastião Barbosa Leão (Tião de Dona Nuci), Raymundo Barbosa Viana, Maria do Carmo Santos Brito (Lia de Elza) e Hernane Roberto Costa Magalhães que tudo começou. Naquele tempo, o vigário era o Pe. Benvindo da Silva Pereira, sendo o Pe. Pedro o seu dinâmico coadjutor e D. Hélio Paschoal o bispo da Diocese de Livramento, da qual Paramirim já fazia parte como paróquia.
Com o lema promover evangelizando, seu primeiro número foi lançado em outubro de 1970, poucos dias antes das eleições de 15 de novembro pela qual se elegeu prefeito o Sr. Durval Marques Leão, sucessor de Leobino José Rodrigues. Trouxe no seu editorial o tema: A igreja é essencialmente uma comunidade de FÉ, CULTO E AMOR. Dentre as notícias veiculadas nessa edição destacam-se o lançamento da pedra fundamental da nova matriz de Rio do. Pires e as homenagens prestadas pelos alunos e professores da Escola Paroquial ao Reverendíssimo bispo da Diocese Dom Hélio Paschoal. Abordou também o funcionamento do serviço telefônico e as reformas da Igreja de Santo Antônio, dentre outras. No esporte o destaque ficou por conta da partida do Independente Futebol Clube na cidade de Guanambi.
Produzido de forma quase que artesanal por abnegados iniciantes sem nenhum interesse comercial, os textos eram datilografados numa matriz, depois rodados em mimeografo a álcool sem nenhuma gravura, totalmente em preto e branco. A redação ficava na casa paroquial, naquele tempo localizada na Av. Dr. Nelson Cayres de Brito, onde residia o Pe. Pedro Olímpio dos Santos, que após o falecimento do saudoso Pe. Benvindo, ocorrido em 17 de setembro de 1971, passou a ser o vigário da paróquia de Paramirim.
O jornalzinho A comunidade teve uma ampla divulgação e aceitação nos municípios vizinhos. No seu tempo era o único da região. Apesar de sua simplicidade, era autêntico, independente e apolítico. Sua manutenção com despesas de impressão e papel ficava por conta da contribuição de alguns colaboradores. Era um jornal inteiramente comunitário. Pena que não continuou por mais tempo.
Do seu derradeiro exemplar extraímos as seguintes notícias:
A comunidade informa: Paramirim – Fortes chuvas caíram sobre esta região nos fins de março para abril, dando aos sertanejos a esperança de que a seca neste ano será menor do que nos anos anteriores. O pasto está bem verde e muito arroz vingou. – As estradas municipais estão em condições precaríssimas. – O prefeito continua o serviço de calçamento das ruas e colocação de meio-fios. – Uma equipe de técnicos de Salvador esteve nesta cidade medindo as ruas para colocação do serviço de água por gravidade, vindo das Passagens, município de Água Quente. Tudo indica que o serviço será atacado em breve. – O grupo de Ação Social fundado em 72 continua se reunindo às quinta-feiras na Igreja Presbiteriana. O mesmo já recebeu vários benefícios, como sejam fossa, filtro. – A Organização Fraternal Sagrado Coração teve os seus estatutos publicados no Diário Oficial de Salvador, no mês de fevereiro. Agora, a mesma Organização dirigiu um ofício ao Sr. Deputado Henrique Brito, no sentido de criar uma lei Estadual de Utilidade Pública. O Deputado respondeu que tudo já está encaminhado na Câmara. (Jornal A Comunidade, Ano III, n° 27. Pagina 05. Paramirim, abril de 1973)