O primeiro avião a pousar em Paramirim

Nos dias 28, 29 e 30 de abril de 1946, a cidade de Paramirim vivia a euforia da conclusão das reformas e embelezamento da igreja matriz de Santo Antônio, o excelso padroeiro do município. Para comemorar esse grande acontecimento, aguardado por toda população, a paróquia organizou uma vasta programação festiva incluindo celebrações religiosas, inauguração do campo de pouso, apresentações musicais e a presença de 5 sacerdotes da Diocese de Caetité.

“DIA 28 – Numerosas pessoas acompanhadas pela filarmônica irão ao encontro dos Padres que chegarão nesta tarde e serão festivamente recebidos nesta cidade. Em, seguida será realizada uma festiva procissão com a vinda das imagens que sairão da Capela de Nossa Senhora do Rosário e depois de percorrerem as principais ruas da cidade, chegarão à Matriz de Santo Antônio, conduzidas pela população jubilosa entre flores, músicas, fogos e hinos entoados em louvor ao Milagroso Padroeiro que voltará ao trono depois de longa ausência. O ato inaugural será celebrado pelo Revmo. Padre Benvindo Pereira, vigário desta localidade e mais cinco sacerdotes da Diocese de Caetité que virão abrilhantar a festa com suas distintas presenças. Logo após, tanto neste dia como em todos os seguintes, haverá interessantes e variadas diversões organizadas pelas senhorinhas da sociedade local. Será inaugurado, também neste dia, o campo de aviação com a chegada de um avião que visitará esta cidade; havendo por isso animadíssima festa.” (Trecho do programa da festa de inauguração das reformas da igreja de Santo Antônio)

Segundo testemunhas que participaram do evento, grande número de pessoas, tomadas de curiosidade, se concentrou no campo de pouso para ver e tocar no corpo metálico do primeiro avião que pousou em Paramirim, o qual foi saudado com as bençãos sacerdotais dos vigários presentes e o belo discurso da profa. Natalice Barbosa Guimarães, em nome das autoridades municipais, tudo ao som da filarmônica contratada para animar os aludidos festejos. Enquanto isso, um caminhão dirigido pelo Sr. Osvaldo de Melo, da cidade de Caetité, fazia o papel de coletivo conduzindo turistas para o local do evento. Após a inauguração, o piloto Guilherme Brandão de Castro colocou a sua aeronave à disposição do público, realizando alguns voos e piruetas pelo entorno da cidade, para alegria, espanto e medo de quem via um avião pela primeira vez.

O antigo campo de pouso de Paramirim, localizado nas proximidades da Lagoa do Barro, correspondente hoje ao espaço onde realiza-se a feira livre da cidade, foi construído por iniciativa do Sr. José Valério Filho, em meados da década de 40, e oficialmente inaugurado em 28 de abril de 1946. Antes de ser transferido para o bairro Lagedinho, passou por várias ampliações, sendo doado à União pelo prefeito Ulysses Cayres Britto através da Lei n° 095, de 30 de novembro de 1955. Sua desativação se deu na administração do prefeito Júlio Bernardo Brito Viera Bittencourt (2001-2005), para instalação do mercado municipal e da feira livre, solenemente inaugurada em 23 de março de 2002 com a presença de várias autoridades estaduais e municipais.

Guilherme Brandão de Castro, filho de Antônio Pereira de Castro Filho (Totó) e Maria Amélia Brandão de Castro, nasceu em Riacho de Santana, Bahia, em 1912, mais tarde mudou-se para Caetité com a família. Tirou o brevet em Montes Claros, MG, tornando-se, dessa forma, piloto do seu próprio avião, o mesmo Stinson que inaugurou o campo de pouso de Paramirim. Faleceu em desastre aéreo com 38 anos de idade, em 11 de setembro de 1950, quando pilotava a sua aeronave entre Bom Jesus da Lapa e Carinhanha. No acidente também perderam a vida, além do piloto, o candidato a governador da Bahia Dr. Lauro Farani Teixeira de Freitas (PSD) e o deputado estadual Gercino Coelho, pai de Nilo Coelho, influente político de Guanambi.

José Valério Filho, o idealizador do aeródromo de Paramirim, como se falava na época, nasceu em Propriá, Sergipe, em 12 de julho de 1910, e faleceu em São Paulo em 6 de julho de 1970. Chegou a Caetité acompanhado de outros oficiais, a convite de Dom Juvêncio de Brito ( 1926-1945), que também era sergipano, para atuar na conclusão das reformas da catedral de Nossa Senhora Santana, matriz do bispado. Casou-se em Paramirim com Angélica Cayres Brito, irmã de Dr. Nelson Cayres de Brito. Sua marca como artista (mestre de obra) continua estampada no interior da matriz de Santo Antônio e nos altares das igrejas de Canabravinha e do Morro do Fogo, razões pelas quais o atual aeroporto também leva o seu nome, de forma justa e merecida.

Com base nessa descrição, fica oficialmente registrado que o primeiro avião a pousar em Paramirim foi o Stinson pilotado por Guilherme Brandão de Castro, em 28 de abril de 1946, por ocasião da inauguração do campo e das obras da grande reforma e embelezamento procedidas na matriz de Santo Antônio, sob o prumo e o esquadro do mestre José Valério Filho, mais conhecido por Zeca Valério.

Paramirim, 4 de maio de 2021.