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133 anos da Abolição

Lamberto, o primeiro escravo contabilizado na história de Paramirim

Não existem registros precisos dos primeiros escravos negros que chegaram ao Brasil. A tese mais aceita é a de que em 1538, Jorge Lopes Buxorda, arrendatário de pau-brasil, teria traficado para a Bahia os primeiros escravos africanos. Eles eram capturados nas terras onde viviam e trazidos à força para a América, em grandes navios, em condições miseráveis e desumanas.

Toda e qualquer informação sobre a presença escrava no território de Paramirim, nenhuma delas antecede à citação encontrada na escritura de compra e venda, paga e quitação da fazenda do arrayal adquirida pelo Capitão Antônio Ribeiro de Magalhães em sociedade com o reverendo João Luís de Barros, passada em cartório da Vila Velha de Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas, em 9 de fevereiro de 1797.

Outra informação importante sobre a presença escrava na região de Paramirim encontra-se nos resultados do primeiro recenseamento realizado no Brasil, em 1872. Na freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Morro do Fogo, na época pertencente ao município de Minas do Rio de Contas, foram recenseadas 14.273 almas, das quais 11.359 habitantes livres e 2.914 escravos. Esse resultado mostra o patamar em que se encontrava a população negra recenseada, correspondendo a mais de 20% do efetivo humano.

Conta-se também que um dos protagonistas da corrida do ouro em Rio de Contas foi o Coronel Sebastião Pinheiro Raposo, que chegou à serra das Almas por volta de 1713 chefiando um pelotão de paulistas composto de 22 infantes, 34 índios flecheiros, 250 escravos e muitas mucamas. Dessa caravana, certamente, descendem muitos rebentos negros que, além de ter contribuído com a força do seu trabalho para o desenvolvimento econômico, também povoaram o território, como bem evidenciam os índices demográficos do IBGE levantados quanto à cor ou à raça em diferentes pesquisas do contingente populacional da região.

Conta-nos Dr. Aurélio Justiniano Rocha, nos subsídios históricos que escreveu sobre o município de Paramirim, que o Capitão Ribeiro, ao se estabelecer na fazenda do arraial com a sua família, arregimentou cerca de 150 escravos, todos eles de puro-sangue, importados da África, criando-se assim, talvez, a mais numerosa e produtiva senzala da região. Prova disso encontra-se na partilha dos seus bens, concluída em 1826, avaliados em nove contos e oitocentos mil reis (9:800$000). Um patrimonio muito significativo para a época, conquistado graças sobretudo aos braços de seus escravos distribuídos nos latifúndios de sua propriedade.

Com base nesses registros podemos considerar o negro Lamberto como o primeiro escravo contabilizado na história do município de Paramirim. O dito cujo foi adquirido pelo Capitão Antônio Ribeiro com as terras da fazenda do arraial, sem valor estipulado, da mesma forma que também se comprou algumas ferramentas, roças e uma casa coberta de telhas, todos mencionados na referida escritura, até hoje existente no Arquivo Público de Rio de Contas. Venda esta executada pelos seus proprietários Dona Maria Quintiliana de Jesus e o seu genro Jean Pinto de Souza, ficando os compradores com plenos direitos sob os bens adquiridos, inclusive as unhas e os dentes do escravo zelador.

Como esse cativo chegou à fazenda do arraial, não se sabe. Se teve uma companheira, filhos ou simplesmente um sobrenome, também não. Sabe-se tão somente, por se achar escrito, que existiu. Poderia ter sido batizado com o nome de Gaspar, Felipe ou Clemente, como tantos outros foram, mas não foi. O destino reservou-lhe essa marca. A marca de ser chamado Lamberto. De ser vendido como o único zelador de uma fazenda, que bem mais tarde iria se transformar em cidade. A marca de viver solitário, de sofrer o estigma da descriminação, de não ser livre, de ser avaliado como um bem material, um objeto manipulado, um ser humano que teve um único privilégio. O privilégio de ser considerado o primeiro escravo negro da história de Paramirim. Se é que isso pode ser considerado um privilégio.

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