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Bactéria encontrada no mandacaru vai ajudar lavouras de milho a suportar a seca

A rizobactéria Bacillus aryabhattai é a base de um novo bioinsumo que aumenta a resiliência e a capacidade de adaptação das plantas do cereal ao estresse hídrico.

Foto: Vander Gomes/Wikimedia Commons
Foto: Vander Gomes/Wikimedia Commons

Uma bactéria encontrada na rizosfera do mandacaru (Cereus jamacaru), importante cacto da região da Caatinga, vai ajudar as lavouras de milho brasileiras a suportar a seca. A rizobactéria Bacillus aryabhattai é a base de um novo bioinsumo que aumenta a resiliência e a capacidade de adaptação das plantas do cereal ao estresse hídrico. O produto, que recebeu o nome comercial de Auras, é capaz de promover o crescimento da cultura mesmo em condições de seca.

A nova tecnologia é resultado de mais de 12 anos de pesquisa e chega ao mercado por meio de parceria entre a Embrapa Meio Ambiente (SP) e a NOOA Ciência e Tecnologia Agrícola, de Minas Gerais. É o primeiro produto comercial destinado a mitigar os efeitos causados pelo estresse hídrico nas plantas e não tem concorrentes registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O Auras é capaz de reduzir os efeitos causados pelas estiagens prolongadas, minimizando riscos e expressando o potencial das lavouras. A tecnologia foi desenvolvida pela Embrapa e será produzida e distribuída, exclusivamente, pela NOOA.

O foco inicial do produto será o milho, com estimativa de 70% da demanda na segunda safra (safrinha) e os 30% restantes na safra de verão, a primeira. Isso porque o milho de segunda safra é sempre o mais afetado por veranicos e restrições hídricas em geral. A NOOA informa que seu produto não aumenta a produção, porém, protege a lavoura de perdas ocasionadas pelo estresse hídrico. A estimativa é que o Auras salve da seca entre seis e oito sacos de milho por hectare, em média, contra um investimento que gira ao redor de meio saco de milho por hectare. A intenção é ampliar o uso do produto para outras culturas, como soja e trigo.

“Por enquanto, só existe essa pesquisa sobre essa tecnologia em agricultura tropical, a qual, de fato, sofre maior impacto da seca”, ressalta o pesquisador da Embrapa Itamar Soares de Melo, que desenvolveu a pesquisa com a rizobactéria da qual derivou o novo bioativo. Ele conta que os isolados de bactérias podem apresentar papéis importantes na promoção do crescimento de plantas em solos secos, por exemplo.

“Sem dúvida alguma, os bioinsumos têm papel relevante no desenvolvimento sustentável da agricultura brasileira. E o Auras traz um novo marco nesse crescente mercado de produtos biológicos,” declara o chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Marcelo Morandi. “Essa tecnologia é o resultado de muitos anos de pesquisa na seleção de microrganismos com características de interesse para a agricultura e da parceria com uma empresa que vislumbrou esse futuro e agora torna o produto acessível ao produtor”, completa.

A NOOA projeta que a nova tecnologia será adotada em 1% da área plantada de milho no País durante o primeiro ano. “Pretendemos atingir 10% dessa área em cinco anos,” prevê o presidente da empresa, Claudio Nasser. “O foco das soluções para o setor agrícola tem que ser nas causas e não no tratamento dos sintomas que afetam as plantas e o equilíbrio do solo. Conhecer esses fatores e quebrar paradigmas é o caminho para uma agricultura mais eficiente e sustentável”, ressalta o executivo.

As riquezas na Caatinga

A região do bioma Caatinga corresponde a uma área de cerca de 734.478 km2 e inclui nove estados, fazendo parte de um ecossistema que se restringe ao Brasil. Portanto, grande parte do patrimônio biológico do bioma não é encontrada em nenhum outro lugar do mundo, o que torna a região um importante cenário para bioprospecção.

Geralmente, ela tem sido descrita como tendo baixa biodiversidade, com poucas espécies endêmicas (que ocorrem apenas naquela região) e, portanto, de baixa prioridade para conservação. Metade da vegetação da Caatinga encontra-se antropizada (modificada pela ação humana) e menos de 2% de sua área está protegida em unidades de conservação de proteção integral.

Recentemente, o governo brasileiro iniciou ações para conservar melhor a biodiversidade da Caatinga. Foram reconhecidas oito ecorregiões e identificadas 57 áreas prioritárias para conservação no bioma, 27 delas de extrema importância biológica. “Portanto, conhecer a biodiversidade microbiana do Semiárido é um passo importante para que seus recursos possam ser aproveitados de maneira sustentável, melhorando a qualidade de vida de seus habitantes”, frisa o pesquisador Melo.

A pesquisa

A base que tornou possível essa pesquisa começou em 2009, com uma investigação sobre a biodiversidade e a bioprospecção de microrganismos da Caatinga, proposta por Melo. O trabalho deu origem à primeira Coleção de Microrganismos de Importância Agrícola e Ambiental, lançada em 2013 com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp), com quase 20 mil isolados de fungos, bactérias, leveduras, arqueias e actinobactérias.

A ideia de pesquisar a mitigação da seca por bactérias benéficas surgiu em 2016, por meio de parceria entre Unidades de Pesquisa (Embrapa Meio Ambiente e Embrapa Semiárido). “Foram analisados isolados de actinobactérias capazes de reduzir os efeitos do estresse hídrico em soja, milho e trigo em razão da produção de enzimas, fitormônios, mineralização de nutrientes, solubilização de fosfato e fixação de nitrogênio”, explica o pesquisador.

Amostras foram coletadas ao longo da Caatinga, em cinco estados: Bahia, Ceará, Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os pesquisadores perceberam que o período de amostragem, chuvoso ou seca, foi o principal fator de alteração na estrutura das comunidades bacterianas, o que permitiu identificar potenciais microrganismos responsáveis pela resiliência ao estresse hídrico.

Ele conta que as bactérias tolerantes à seca, ao colonizar o sistema radicular das plantas sob estresse abiótico, produzem substâncias que hidratam as raízes, chamadas exopolissacarídeos. Para que os microrganismos cheguem às plantas, é feito um procedimento simples na hora de plantar: as bactérias são misturadas às sementes por ocasião do plantio, em uma suspensão líquida, que pode ser água.

O milho brasileiro

Foto: Reprodução/Pexels

O Brasil é o segundo maior exportador mundial de milho. A cultura é mais sensível ao ataque de pragas e doenças ao longo do ciclo. Além disso, sofre também com as mudanças climáticas: secas e excesso de chuvas são frequentes. A cultura do milho no Brasil vem experimentando uma evolução crescente, principalmente em relação à produtividade. Os cenários nacional e mundial apontam o País como grande produtor e exportador do cereal nos próximos anos.

O milho é cultivado em praticamente todo o Brasil. É a segunda maior cultura de importância na produção agrícola no território nacional, sendo superada apenas pela soja, que lidera a produção de grãos no País. A safra 2019/2020 registrou recorde, de 250,5 milhões de toneladas, 3,5% superior ao colhido na safra anterior.

O papel social da cultura também é grande. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 59,84% dos estabelecimentos que produzem milho consomem a produção na propriedade.

Publicado originalmente no site da Embrapa. Todos os direitos reservados à empresa.

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