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O primeiro professor de Inglês do Ginásio de Paramirim

Antigo casarão de D. Guilhermina Bonfim da Silva, na Praça Santo Antônio, um dos locais de funcionamento do Ginásio antes de ser transferido para sua sede própria, na Rua Trasibulo de Brito.

Já que estamos falando sobre os pioneiros da história local, vamos incluir na relação o primeiro professor de Inglês do Ginásio de Paramirim. Isso lá pelos idos de cinquenta, quando a terrinha nem sequer sonhava com os neologismos introduzidos na língua portuguesa no campo das ciências e das tecnologias. O felizardo para assumir a cadeira teria que ser alguém de fora, pois na cidade ninguém falava a língua do Tio Sam e na grade curricular do curso secundário (continuação do antigo primário) essa disciplina era considerada prioridade. O ginásio fora criado sob regime de inspeção e sem o Teacher of English a autorização não saia. A Fundação 16 de Setembro, responsável pela sua manutenção, teve que se virar para dar conta do recado sem esperar que o milagre viesse cair do céu.

Contar a história desse educandário em poucos parágrafos, não tem como. Mas, para um bom entendedor, basta dizer que tudo começou em 30 de janeiro de 1957, quando a sociedade paramirinhense, reunida no Grupo Escolar Prof. José Cândido Vieira, organizou a Fundação 16 de Setembro com o propósito de criar e manter um ginásio em Paramirim para ministrar o curso secundário. Encabeçada pelas principais lideranças da cidade e vários pais de família, a fundação preparou a documentação necessária para obter a autorização do funcionamento, fato que só veio acontecer a 18 de março de 1958, através do ato n° 8, da Inspetoria do Ensino Secundário da cidade de Salvador, motivo de muita alegria para a população. Na noite de 24 desse mesmo mês e ano, instala-se solenemente o Ginásio de Paramirim e no dia 31 (numa memorável segunda-feira) inicia-se o funcionamento do curso ginasial.

No portentoso team de 1958 estava a elite dos professores de Paramirim, alguns deles com nível superior, a exemplo de Dr. Aurélio Justiniano Rocha que a título de contribuição assumiu as disciplinas de Ciências Físicas e as aulas de Francês e Latim, valendo-se de sua sólida experiência adquirida no curso de medicina A ele vieram se juntar mais tarde os padres Geraldo Freitas e Roque Chassot (este último, gaúcho), duas almas benevolentes enviadas pela Diocese de Caetité para colaborar como professores, os quais permaneceram entre nós por pouco tempo, mas com resultados proveitosos. Destaque também para o riocontense Zaiter Laudelino de Souza, senhor absoluto da cadeira de Português, por mais de uma década. Na ala feminina marcaram presenças as mestras: Natália Viera Brito, Zelinda Magalhães e Silva, Terezinha Brito Vieira. Dalila Alves Meira, Maria Raymunda Lacerda Bittencourt, Geruzia Alcântara Pessoa, Dulce Abreu Magalhães, Albertina Vieira Bittencourt e outras contratadas, posteriormente.

Nos primeiros anos de sua existência, ou seja, antes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 20 de dezembro de 1961, no Ginásio de Paramirim, além da Lingua Portuguesa, ensinava-se também Latim, Francês e Inglês. Quatro línguas, quatro disciplinas, quatro professores cada um dando conta do seu recado com muita dedicação. Foi nessa ocasião que entrou em cena Dr. Victor Goulart Paes, nomeado promotor público para a comarca de Paramirim. Uma pessoa certa na hora certa para ser o professor de Inglês do ginásio com todos os requisitos e habilidades necessárias. Não só falava fluentemente o English, como também impunha respeito pela sua pessoa e pelo cargo que ocupava, tanto é que, pouco tempo depois, foi escolhido em assembleia da Fundação 16 de Setembro para ocupar o cargo de diretor, tudo na base do voluntariado.

Ao relatar esses fatos, fico a lembrar que até o começo dos anos setenta, havia pouco dinheiro em circulação. As pessoas eram mais solidárias às causas sociais. Tudo ou quase tudo se fazia de forma compartilhada. Quem já ouviu falar nos mutirões para execução de um serviço. Nesse tempo, os profissionais graduados assumiam a direção das instituições sem fins lucrativos. Como exemplo, lembramos os cargos da diretoria da Fundação 16 de Setembro, do Clube e dos times de futebol. Os vereadores não eram remunerados e o prefeito recebia apenas as verbas de representação. As orquestras, chamadas de prata da casa, animavam os festejos de Santo Antônio sem nenhuma gratificação em espécie. Na mesa farta dos leilões não faltavam os brindes ofertados pelos fazendeiros, comerciantes e donas de casa. Havia cooperação por toda parte. Hoje tudo é na base do dindim ou do money, nem por isso as coisas estão a mil maravilhas. Pudera! No Império do capitalismo, predomina o “toma lá, dá cá”, sem se falar nas “mãos gordas” e nos famosos “por debaixo do pano”.

Assim, revendo as páginas do tempo, lembramos que o Ginásio de Paramirim (hoje, Colégio), no começo de sua história, foi privilegiado com um quadro de docentes com excelente padrão de qualidade, dentre eles um médico, dois sacerdotes, um promotor de justiça, um professor universitário e outros tantos com muita experiência em sala de aula. As sementes por eles lançadas encontraram terreno fértil, produziram bons frutos em diferentes safras. Fica aqui, pois, as nossas considerações a todos que tiveram a felicidade de pertencer a essa época, principalmente àqueles que aprenderam o Speaking English com Dr. Victor, primeiro professor de Inglês desse estabelecimento.

Homenagem especial faço também ao professor Raymundo Barbosa Viana, hoje radicado em Vitória da Conquista, legítimo sucessor de Dr. Victor, uma prata da casa que escolheu o magistério por vocação. Formou-se pelo Ginásio de Paramirim, em 1961, integrando a turma pioneira de concluintes desse estabelecimento, do qual foi docente e vice-diretor. Após formar em magistério, dedicou-se ao estudo da língua inglesa compartilhando a sua vocação com centenas  de alunos em diferentes patamares. Sua extensa biografia, toda ela dedicada à causa educacional, reflete o brilho de um educandário pioneiro na região, do qual sabe honrar o nome por onde se faz presente. Raymundo sabia como ninguém conciliar os anseios da juventude das décadas de sessenta e setenta, contextualizando sucessos internacionais, como o “it’s now or never”, em sala de aula com muita singularidade. A todos a nossa gratidão e respeito. 

Domingos é professor aposentado, historiador, cronista, palestrante e atual Secretário de Educação de Paramirim.

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