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Se estivesse vivo, Dr. Aurélio Rocha completaria 115 anos nesta semana

Dr. Aurélio Rocha

Por Antônio Gilvandro Martins Neves

Em 14 de janeiro, há 115 anos, vinha ao mundo um vulto para todos nós muito querido. Era o Dr. Aurélio Justiniano Rocha. Do casal Dr. José Basílio Justiniano da Rocha e D. Aguida Bonfim da Silva, teve as Minas do Rio de Contas como seu berço natal. Ali viveu a idade primária na escola do Prof. Santana. Pretendendo seguir seus estudos, seus pais o encaminharam a Salvador, onde fez o curso secundário no Colégio dos Perdões, após o que submeteu-se ao vestibular pela Escola de Medicina, onde galgou o merecido diploma.

Não demorou em passar a trabalhar em Muritiba, aqui na Bahia, até que seu tio Cel. Chiquinho convidou-o convocando a vir para Paramirim assumir o lugar de seu genro, o médico Dr. Edgard Landulpho da Rocha Medrado, que estava com a saúde bastante fragilizada, que o levou ao túmulo em dezembro de 1936.

Daquele ano, Dr. Aurélio assumiu os destinos médicos de Paramirim até 1994, quando partiu para a Pátria celeste. Aqui, criou seus filhos, ao lado da esposa-mãe, D. Hilda, todos eles tendo seguido a mesma vocação paterna. Sem sombras de dúvidas, ele entregou a sua vida pela causa de tantas vidas! Não tendo os recursos da ciência como acontece agora, ele operava verdadeiros milagres! As mães eram o sujeito de sua mais devotada assistência. Dificilmente, raríssimas vezes, uma mulher perdia a sua vida diante das urgências e emergências maternas! Ele fazia até o impossível para não ver uma mãe sossobrar no momento mais belo da maternidade, qual seja o parto.

Vou citar alguns, entre os inumeráveis atos de heroísmo por ele realizados nesta nossa região. Alguém veio aflito pedir para que ele fosse à vila de Ibiajara, desta Comarca, atender à sua esposa que, há um dia, estava atormentada, sem poder dar à luz. Parto intrincado, mas ele o foi. Chovia torrencialmente como nestes dias aqui. Chegando às margens do Rio da Caixa, afluente do Paramirim, este transbordava com ondas violentas nas águas caudalosas. Que fazer, pois? Atravessar como aquele “mar dulce” numa turbulência incontrolável? Apresentaram-lhe uma solução altamente arriscada: ele passaria em um tacho de engenho de rapadura com as asas amarradas por uma corda, em que um grupo controlava, puxando aquele barco improvisado! Ele topou e a travessia aconteceu, sob o tremor e temor de quantos a assistiam! Descendo do outro lado, imediatamente rumou- se para Ibiajara e ainda alcançou viva a mãe pobre sofrida e obteve o êxito a que ele propunha: salvou a mãe e o filho! Este ato de doação é de um heroísmo, sem tamanho! Viveu a coragem do risco para preservar a vida de uma humilde mulher!

Noutra vez, no casarão de Sá Candinha, onde hospedavam as parturientes e os doentes pobres de tantas comunidades, ele fez um parto e, quando pegou-se a criança, esta estava sem sequer uma fralda! E o que ele fez? Despiu-se de seu jaleco, cobriu o neném e foi embora para casa, sem camisa!
Outro fato que mostrou seu testemunho, foi quando buscaram-no para atender a Profa. Perolina Rosa Ribeiro, em Pau de Colher, deste Município, num trabalho de parto sob a assistência de uma parteira leiga, mas quando ele chegou à porta da casa dela, disseram- lhe: “Ela está falecendo”, ao que ele disse assustado: “Não é possível! Por que não me avisaram antes!” Tentou reanimá-la, mas foi em vão. Era tarde! E ele chorou convulsivamente!

Estes casos constituem uma infinidade que surgiu diante de sua nobre missão salvadora, exercida ao longo de quase 70 anos! Quantos sorrisos ele fez brotar nos lábios! Quantas alegrias ele levou ao coração das famílias! Quantas esperanças ele fez nascer e renascer nos lares! O seu pequenino consultório, simples, sem ostentação, ajudado por uma heróica Santa Elza de Lulinha, era um verdadeiro “cantinho do céu”!

Diante de um vulto de primeira grandeza como Dr. Aurélio, tão forte como uma Rocha, não poderíamos deixar de lembrar a data em que ele partiu, deixando como rastro indelével no solo de Santo Antônio o testemunho de sua vida pelas vidas! Deus lhe pague, nosso velho Doutor! Relembrando Santa Teresinha de Jesus, a quem tu tinhas uma profunda veneração. Ela disse em seus Manuscritos Autobiográficos assim: A MINHA VOCAÇÃO É O AMOR! Ora, insigne Doutor, não foi o amor a razão de todo o teu múnus aqui neste Vale abençoado do Paramirim? “O QUE FIZESTES A UM DESSES MEUS IRMÃOS MAIS PEQUENINOS, A MIM O FIZESTES”, disse Jesus (Mateus 25,40).

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